domingo, 31 de outubro de 2010

Comemoração




Hoje tem festa
Festa de arromba
Arranjos feitos
Música
Vinho
Jantar
Sobremesa
Até presente
Ah! O presente
Depois da dança
Dos sorrisos
Terminados todos os assuntos
Aí sim
Hora do presente
Entregar
Desembrulhar delicadamente
Devagar
Tirar toda a embalagem
Desfrutar
Caixa dos cinco sentidos
Podes ver
Sentir
Ouvir
Tocar
Degustar
Intrusos não serão bem vindos
Privada
Exclusiva
Particular
Apenas tu
Penetra


Mariana Luz


Regente Universal





Power
Brilho na tela
Cores, luz
Do mundo, janela
Parece mágica
Música, dança
Violência, crime
Busca por dinheiro
Namorado
Mulheres semi nuas
Inerte, estática
Antes, guardados numa caixa
Hoje, pintados na tela
Plana
LCD
Plasma
Quanta capacidade!
Possibilidade de conhecer o mundo inteiro
Lugares
Costumes
Crenças
Idiomas
Cultura
Festas
Tudo sem levantar do sofá
Domingo
15:00h
Para mim, a mensagem nada tem de subliminar
Humilhação
Passaporte para o mundo
Ou canal de confusão
Ela te avisa: "Volto em um minuto, não sai daí"
E tu? 
Obedeces, claro!
Compras
Te manda comprar produto X
Pagar caro por isto
Veicula merchandising 
Opinião 
Te faz acreditar que também podes
Já não sabes se tomas tuas próprias decisões
Ou não
Que máquina perfeita!
A melhor invenção 
Dos inteligentes
O melhor manipulador 
Dos tolos


Mariana Luz

sábado, 30 de outubro de 2010

Proposta




Olhos fechados
Esforço-me para mantê-los assim
Hibernar até o próximo encontro
Não quero ver o tempo passar 
Quero apenas que ele passe
Em sonhos só sinto teu gosto
Teu perfume
Teu calor
E ao abri-los
Estarei ao lado teu
Então não sentirei tua ausência
Não tão forte
Não tão vívida
Tanta saudade
Tanta falta
Tanta vontade de estar junto
Por que os dias passam em Progressão Aritmética
E o amor cresce em Progressão Geométrica?
Por que um corpo não pode estar, integralmente, em dois lugares ao mesmo tempo?
Porque o Nordeste tem que ser o oposto do Sudeste?
Por que o coração, tão forte para bombear, é tão frágil para amar?
Por que, com tantos conflitos, temos que nos querer tão intensamente?
Por que não se descobre de uma vez a fórmula do amor?
Quero contrariar a matemática
Discordar da física
Modificar a geografia
Brigar com a biologia
Fazer história
E revolucionar a química
Vem comigo?



Mariana Luz

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Solução



E quando isso acontecer
Não haverá mais desmatamento
Violência, queimada
Gravidez na adolescência, só planejada
Trânsito livre de acidentes
Assaltos, sequestros, não existirão
Estupros passarão a ser lenda
Guerras não acontecerão
Tampouco homicídios
Depressão
Não haverá motivo
Para o suicídio
A miséria acabará
Inflação, só no dicionário
De frio, fome, ninguém mais morrerá
Preconceito
Racismo
Erradicados
Desigualdade social terá difícil explicação
Corrupção, inimaginável
Toda criança terá direito a educação
Nenhum jovem ficará fora da faculdade
E a voz da professora foi ficando mais confusa
Não havia mais clareza
Como que tomando distância
Olhei o relógio, quase hora do intervalo
Tocou o sinal
Desliguei o despertador, levantei de um salto
Enquanto escovava os dentes
Tomei nota, mentalmente
Preciso lembrar de avisar
Respeito!



Mariana Luz


quarta-feira, 27 de outubro de 2010

XX




Acordar cedo, banho gelado
Maquiagem, cabelos penteados
Café da manhã na mesa
Lavar, secar, guardar a louça
Salto alto
Levar os filhos na escola
Sair para o trabalho
Horas a fio, trantando dos pacientes
Ensinando alunos
Atendendo telefones
Organizando arquivos
Vendendo no balcão de uma loja
Extraindo dentes
Não importa qual seja a ocupação
De uma coisa estou certa: cansa!
Buscar as crianças
Voltar para casa
Almoço
Mais mesa a ser posta
Mais louça a ser lavada
O menino tem aula de futebol
A menina, balé
Ou inglês, os dois
Depende do dia
Retornar ao trabalho
Mais do mesmo a ser feito
Ao chegar em casa
Banho
Vestir-se adequadamente
Esperar o marido
Filhos
Estar bonita
Bem humorada
Cheirando a bom humor
Aturar brigas
Discussões
Dar um beijo no marido
Sorrir e perguntar como foi o dia no trabalho
Lavar a farda das crianças
Banhá-los
Jantar
Pratos, louça, pano
Exausta
Hora de dormir
Cólica, sangue
Mau humor
Tristeza
Lágrimas
Dia seguinte, quase tudo se repete
E ainda conseguir ser feliz

Heróis que nada!
Admirável mesmo é a mulher



Mariana Luz

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Certeza



Tentei mentir pro coração
Enganar
Convencê-lo dos obstáculos
Da intransponível distância
Do tempo inerte
Da falta, da lembrança
Da frequente ausência
Esporádica presença
Fiz de tudo para ele aceitar
Tentativa frustrada
A saudade não admite
A vontade de erradicar a solidão
Guia-me a ti
Nem a razão permite
Permaneces aqui
Em pensamentos
Em sonhos
Anseios
Querer
Poder te encontrar
Sentir, tocar
Estabelecer contato visual
Minutos sem quebra
Senti tanto a tua falta
Que bom estar aqui
Te quero para sempre
Te amo!
As palavras brigam entre si
Para ver qual é a primeira a escapar
São tantos bons momentos
Pelos quais espera meu coração
Que de nada valem meus argumentos
Todos em vão
Ele é decidido, sabe o que quer
Eternamente, desejar-te
Infinitamente, amar-te


Mariana Luz

Fora



Cansei
Dos ciúmes, exigências
Discrepâncias, desenganos
Falta de credibilidade
Cansei, inclusive, dos planos
Não entendo tuas verdades
Tua noite começa onde a minha termina
Chego a metade do dia
Quando o teu inicia
Não sou mais menina
Tampouco personagem
Não me enquadre em tuas fantasias
Enxergue-me como miragem
Surreal, utopia
Inatingível, inalcançável
Idealizada
Fresca, metida
Mimada
Como quiser
Só não me enxergue como mulher
Não serei posta numa caixinha
Embrulhada com fitinha
Para virar propriedade
Queres pagar IPTU? Basta adquirir um imóvel
Eu, meu bem, sou completamente móvel
Tens o meu aval, podes falar
Chuva de verão, fogo de palha
Motor de fusca, rádio a pilha
Como desejares me adjetivar
E, caso queiras minha opinião
Somos sol e lua
Encontramo-nos de passagem
Chuva e estiagem
Onde uma age, outra não atua
Entendeu ou não?



Mariana Luz

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Abstrato (do Luh)



Um sentimento único
Esquecido
Abandonado na poeira do sótão
Complexo demais pra ser levado a sério
Quando o amor existe?
Quando ele é formado por princípios absolutos
Nada daquela coisa com uma tarja amarela
E uma letra “G” grande que está acessível a todos
Amor é composto
Amor é conjunto
Amor contém
Pra se ter amor precisa de pureza
Precisa ser amigo
Precisa respeitar
Compartilhar
Doar
Precisa que sejas responsável
Humildade nem se fala
Paciência é fundamento
Precisa ser fiel
Precisa ser cúmplice
Precisa saber rir
E chorar
Precisa estar perto
Mas longe também serve
Precisa estar vivo
Mas pode-se amar quem já morreu
Não pode ter idéias pré-concebidas
Precisa ser genuíno
Imaculado
Precisa de paixão
Esta até que é secundária
Porque se materializa
Toma corpo e forma
E torna-se propriedade
Concreto
Estátua
Eu gostaria muito de te ter comigo
Na minha casa
Em minha cama
Seria muito bom
Mas olha nossas diferenças
Sei que eu viveria uma paixão absurda ao teu lado
Esgotaria meus hormônios
E também minhas forças
Mas tudo que é concreto
Se esvai ao vento
Consome-se com o tempo
E morre
E no último suspiro
Aniquila o amor
Infelizmente o egoísmo é mais forte
E é alma gêmea da paixão
Não se largam
Por isso eu digo que te amo
Porque meu amor é abstrato
Tu não podes por tuas lindas mãos
Só pode contemplá-lo boquiaberta
Entendeu menina?

Galega




Ainda era criança
Lembro-me vagamente
O império era meu
O amor dos pais
A bajulação
Os brinquedos
Presentes
Tudo para mim
934 dias depois
Você chegou
Eu, tão pequena, encontrei alguém menor
Minha irmãzinha
Minha bebê
Minha bonequinha
Você chorava, eu chorava junto
Você sorria, eu também
Velava teu berço enquanto aguentava
Tios, primos, avós
Não te entregava à ninguém
E ai de mainha se o fizesse
Sentia ciúmes, estresse
Crescemos
Deixamos de ser bebês
Crianças, brigas intermináveis
Discussões incessantes
Lágrimas, choro
Raiva, tristeza
O brinquedo é meu!
Então, tire minha blusa!
Tentasse alguém nos separar
Saudade
Essa das roupas nunca termina
Dá minha bolsa!
Devolve o vestido!
Empresta o perfume?
Uma fecha a cara
Outra bate a porta
Mas
Qual a primeira pergunta ao chegar em casa?
Hoje, crescidas, adultas
Pode até haver disputa
Mas há, também, consciência
Desavenças, paciência
Quem nunca brigou?
Sentimento fraterno é incompreensível
E o mais importante
É saber que logo chega Quinta-Feira a noite
E acaba o mal-humor
Conversas, confidências
Cumplicidade
Carinho, respeito
Amor


Mariana Luz



Te amo, prasempremente!

Conchinha



Atravessa a porta do quarto
Interrompe a iluminação
Acomoda-te na cama
Recosta tua cabeça no travesseiro
Cerra as pálpebras
Contempla-me
Vislumbra-me em sonhos
Imaginação
Atravesso a porta do teu quarto
Pressão no interruptor
Relance
Iluminação interrompida novamente
Deito-me ao teu lado
Movendo teu rosto em direção ao meu
Abres os olhos, me vês ali
Sorris
Aproximação
Carinho
Abraço
Aconchego
Juntinhos
Caimos em sono profundo
Que bom é estar assim, perto de ti.

Mariana Luz

domingo, 24 de outubro de 2010

Descrição




Contemplo o nascer do sol, teus olhos
Desabrochar de uma flor, sorriso
Sinto nas pétalas a maciez da pele
Primeiras gotas de chuva
Inclino-me, beijo teus lábios
Meus cabelos sobre ti são cachoeira
Me abraças suave, envolvimento ardente
Enlaças todo o meu corpo, oceano
Reajo imediatamente
Suor, orvalho
Desejos tão intensos, fogo em brasa
Vontades indiscretas
Pensamentos materializados
Farfalhar de borboletas no estômago
Sensações, sentimentos
Tua voz a sussurrar baixinho
O ar em movimento
Exalo
Baquetas, pratos, bumbo
Chimbal, surdo, tons
Corações
Inspiro
Expiro
Mais forte
Transpiro
Ápice, clímax
Prazer experimentado pelos apaixonados
Teu corpo em mim
Sintonia ideal, perfeita melodia
Sonho? Surreal? 
Utopia?
Totalmente atingível
Transcende a fantasia
O sideral



Mariana Luz

Receita Para o Sucesso



Ponha-se na presença de um bando de puxa-sacos
Aqueles que gostam de bajular, adular
Coloque-se em evidência
Por alguns instantes, faça-os acreditar
Em sua incomparável inteligência
Pronto! Resolvido
Diga-os, agora, o que quer que façam
Peça-os para votar em tal político
Convença-os a comprar produto X
Afirme que 2+2 = 5, eles acreditarão
Chame-os de trouxas, idiotas
Sutilmente, xingue-os em vão
Peça-os dinheiro, bastante
Explique, demonstre, explane
Para depois extorquir
Eles não se importarão
Invente um produto qualquer
Inútil
Disponibilize-o, à venda nas melhores lojas
Sucesso
E aproveite o seu período de império
Em muito pouco, será esquecido
Aparecerá um mais inteligente
Mais bonito
Ou menos vestido
Com idéias novas
Mais despido
E a legião de aduladores irá seguí-lo
Amá-lo desde a infância
Ora cegos
Ora surdos
Ora mudos
Alienados, por fim
Basta saber como
Assim funciona o ser humano
A mente medíocre dos que não sabem apreciar a arte

Eco de Sorrisos

 
 
Esse tempo que passa a largos
Que não me espera
Que flui avante, silencioso
Soberbo, arrogante
Senhor das almas
Porque não se põe limites?
Como o espaço
Tridimensional
Não
Ele é soberano
Eterno instante
Memórias atrás
Projetos à frente
Eterno hoje
Sugar um antielétron
Que vaza, rompe a massa negra
A matéria corpuscular
Pra ver se crio forças
Pra alcançá-lo
Talvez ultrapassá-lo
E minha força motriz absurda fazer pará-lo
E aleijá-lo
Curvar seu episódio
E voltar através do buraco de minhoca
Se sorte cair em branas
E por lá viver eternamente
Só assim poderei viver este novo e tão imenso amor
Lá onde o maldito não impera
Lá onde universos em Thales
Lá onde o abstrato supera a avareza do concreto
O amor, maior deles, como rei
E meus gritos romperem dimensões
Meus sorrisos ecoarem em ondas antimatéria
Até onde estiver minha amada
 
 
 Luis Henrique
Pronto! Meu ceticismo posto à prova. Fico aqui coçando a cabeça, pensativa reticente: Será que de alguma forma não estamos ligados por um elo perdido (pleonasmo vicioso, hihih!), por uma congruência eterna? Sei lá...

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Dois Mil e Tanto




Frio fúnebre
Gélida escuridão
Ausência de qualquer ruído
Palpável tensão
O medo cortante arranca-me as últimas gotas de esperança
Deus, não me deixe mais viver
Manda o anjo da morte, que ele me tire daqui
Envia depois o da vida, aquela eterna ao lado teu
Só não posso mais ficar aqui
Nesse universo cruel
Mundo de opressores
Oprimidos
Terra de gente insana
Loucos
Uns que morrem por nada
Outros matam por tão pouco
Suicídio agora é moda
Pobres almas inquietas, confusas
Por motivos esdrúxulos
Álcool, posses, luxos
Aniquilam suas vidas obtusas
Homicídio agora é fashion
O que mata e sai ileso
Este é ídolo, é lenda
À sociedade, desprezo
À quem passar perto, contenda
Genocídio é roteiro de cinema
Chacina, motivo de orgulho
Assalto agora é corriqueiro
Sequestro é coisa tão pequena
Grandes mesmo são as filas no hospital
Vandalismo, dos males o mais natural
Fauna e flora, pobrezinhas
Delas, pouco sobrevive
O que não foi liquidado
Corre risco de extinção
Água doce é sinônimo de riqueza
A potável, só se encontra em leilão
Deus, me ouve, por favor
Atende os meus pedidos
Meu desejo, meu último suplício
Me tira deste martírio
Não suporto viver entre essa gente
Não quero mais integrar a raça humana
Transforma-me em árvore, em planta
Assim vou mais rápido, assisto menos
A devastação que está apenas começando
E posso me orgulhar, como prêmio
Por não colaborar com tantos danos.

Mariana Luz