segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Disparate

A mulher é faxineira
E o homem, traficante
Apaixonam-se loucamente
Desde o primeiro instante
Ela está grávida
Ele, extasiado
270 dias mais tarde
Ela dá à luz
Dá à luz?
Mas habitam lá no morro
Ela dá à escuridão
A recém-nascida chora
Pobre mãe, triste lamenta
Para ela é uma tormenta
Ter de ver, presenciar
O pranto que se inicia agora
Sem ter dia para cessar
Ao passo que vai crescendo
A menina vai aprendendo
Enfrentar dificuldades
Seu pai, há muito é morto
A sua vida de droga
Liquidou sua droga de vida
A adolescente herdou do pai
Paciência, esperteza e calma
Malandragem e fria alma
E agora, aos 12 anos
Manuseia qualquer arma
Fim de tarde na favela
E os dois bandidos chefe
Ambos muito decididos
A desvirtuar a bela
Iniciam a disputa
Já é tarde, eles não sabem
Que com a morte do pai
Ela virou prostituta
Sua tão doente mãe
Precisava de consulta
Não deu tempo, a mãe morreu
A garota agora é órfã
Engravida, tem um filho
A história se repete
O governo, o que diz?
Não tenho nada com isso
Implantem o bolsa família
Enganem os idiotas
E me deixem ser feliz.



Mariana Luz

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